O R. é dos que vivem. Sim, por que é sabido, ainda que toda a gente morra, nem toda a gente vive! E ele vive. De forma intensa. Daquela forma que, cada um com as suas regras, deveria ser a única forma de viver.
O R. trabalha. Não vive de dinheiros de família, dinheiro dos pais, que o têm abastadamente. É um profissional exemplar. Tudo dito quanto a isto. Quase. Acrescentar, apenas, que complementa esse seu profissionalismo, proporcionando um excelente ambiente de trabalho. Podia, simplesmente, não o fazer. Retira portanto, o máximo partido do seu emprego. Ora, com esta postura, é fácil compreender que, os seus momentos de lazer são vividos… como dizer… como se não houvesse amanhã!
Já me confessou várias experiências pouco relevantes, sem interesse para partilhar.
Esta parece(u)-me merecedora de registo…
Aparentemente, era uma véspera de folga normal. Fim de tarde – encontro no café de sempre. Chega um, chega outro, chega a cerveja. E não se pára de beber, porque cerveja… nunca chega… ocasiona-se o jantar e lá vão eles. Entre garfos e que tais, conversa-se. Fala-se de tudo. Tudo num jantar de homens, pode muito bem ser, carros, futebol e… mulheres. E rega-se a palavra, com um tinto, que a comida, essa, é adereço.
Alguns bares, e o seu triplo (numero simpático…) em whiskies. Antes que se faça tarde, ainda uma discoteca, perfeitamente dispensável. E é aqui, no fim, no que se previa ser o final desta noite, que ‘começa’ a história do R.
Miúdas lindas e, como nestas noites, o álcool comanda a vida, “vamos meter conversa”.
A abordagem do R. parece não ter tido recepção fácil. Mas ele não desiste… é demasiado optimista, boa onda, e com a sua atitude, resultados magnéticos. A conversa corre, bebe-se um sorriso, e o tempo voa. Surge, naturalmente, (no contexto) a pergunta: - vamos no meu ou no teu?... – Foram cada um no seu. Ele no de trás, porque era para casa dela. O ambiente estava criado e oficializou-se, com um primeiro beijo, à porta do apartamento.
Detalhes do entretanto, sei apenas quê se preveniram. Não para tudo, no entanto… não se preveniram para um depois, constrangedor. Os ‘copos’ desculpam muitas coisas, mas não justificam tudo o que se faz e… o que se diz.
Na parte final do entretanto, pouco antes do depois, algures neles, confundiam-se murmúrios. Ela, do nada, ou do tudo que era o momento, pede-lhe baixinho ao ouvido:
- Diz-me que me amas…
Um qualquer actor, tê-lo-ia feito, o R. não. Não, não é actor, não, não lho disse. E viu, inclusive, a sua masculinidade ir embora… O depois, chegou… antes do tempo. O silêncio é isso mesmo… silêncio. Apesar de por vezes dizer muitas coisas, di-las sempre sem conversa. Então eles conversaram o silêncio. Numa desculpa que nunca o foi, o R., qual descoberta muito conveniente da pólvora, (que ainda hoje lhe magoa o como) percebeu ser ‘tardíssimo’! E qual jamaicano aos 100m, vestiu-se, despediu-se com um... "a gente vê-se", e saiu.
O R. desaparece aqui. Agora entro eu. Eu que constato:
O R. foi muito simpático com ela. Ela foi muito simpática com o R.
Mas desde início, desde a recepção difícil, que ela lhe fez na discoteca, nunca estiveram a viver o mesmo.
Ele perguntou-lhe em que carro... ela ‘deu-lhe’ a casa…
Ela pediu-lhe para ele lhe dizer uma frase... ele confirmou-lhe que nunca mais se veriam…
Ele procurou sexo, através do amor, espelhado no modo do seu contacto.
Ela procurou amor, através do sexo, espelhado no modo do seu contacto.