segunda-feira, agosto 03, 2009

Nasceu flor. Baptizaram-na Margarida.

Ela é(ra) vida. Ela é(ra) sorriso. Porque o seu bem era o bem dos outros, apenas lhe morreu o corpo.

Margarida, um coração do tamanho do mundo. Um peito puro, belo, onde todos os que queriam podiam morar. Margarida abrigava tudo no seu peito, principalmente a sua dor, para que não lhe fosse maior, se visse sofrer com ela, os amigos que tanto, tanto amava.

Um dia abrigou um ser no seu peito. Um ser mau demais para o peito puro da Margarida. E esse ser viu-lhe a pureza e qui-la, à Margarida, só para ele. E a Margarida, de bondade, deu-lhe parte, não sem dor, sem muita dor, do seu peito. Deu-lhe um seio. Mas o ser queria mais da Margarida. Queria-a toda e, já senhor de um seu seio, deixou-se no seu seio ficar. Ciumento, foi-lhe fazendo mal ao corpo, por dentro, até que ela fosse só sua. Margarida, para que nós não sofrêssemos a dor dela, deu-se, de corpo, a esse ser.

No dia 01 de Agosto de 2009, o corpo da Margarida morreu e nunca me morrera o corpo de alguém tão querido.

- Pediste-nos para não chorarmos, Guigui, se não o (con)vencesses, mas eu choro. Choro muito, minha querida, porque não consigo conter este egoísmo, de pensar no mal que me fará a distância do teu sorriso, a saudade já tão grande da tua voz. E, minha linda, porque fraco tenho de chorar, construo com as minhas lágrimas, os degraus da escada onde já te vejo subir. A escada que te vai levar onde irás esperar mim. Resta-me a esperança, pelo teu exemplo, de na desgraça, se vier, ter no fim ainda forças, suficientes o bastante para chegar à morte. Que morra, que não me fique a morrer!
Ficarei mais pobre, Guigui, ficarei o miserável que a ausência da tua companhia física fará de mim. Não muito porém, pelo todo suficiente que partilhámos. Pelo todo infinito bem que estarei sempre a receber de ti, que te escolhi para irmã.

Ó minha flor, vais estar comigo como sempre estiveste. Prometo que vou continuar a conversar contigo, e a tentar vencer com um sorriso, as saudades do teu sorriso. Até breve minha querida, minha amiga doce, minha confidente que me levas os segredos. Amo-te, Guigui, para todo o (meu) sempre.


Ó minha flor que nasceste Margarida
Que encerras em ti todo um jardim
Tu que tens vida para além da vida
Eterna serás, ó querida, dentro de mim.


A minha querida amiga Margarida, venceu muitas batalhas. Não as suficientes para ganhar a guerra, na sua luta contra o cancro da mama.

30/09/1968 – 01/08/2009

9 comentários:

  1. Uma Margarida com pétalas de coragem e amor, uma imagem que nos pintaste de uma mulher de força, pura e bela. Que te tocou na alma.
    Claro que não há palavras minhas que possam atordoar a dor... fica um abraço (virtual) de energia e fé.
    Bj

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  2. por mais que as pessoas lutem, seja com o que for, vem sempre uma batalha mais à frente, e teremos nós que tornar a lutar...
    cabe-nos a nós sabe-la enfrentar, sem receio, com toda a nossa força, para que um dia, depois da vitoria possamos dizer "eu consegui" ou "eu ao menos tentei sem nunca desistir"...
    sao poucas aquelas pessoas que nos podem dar esse exemplo, ou atrevo-me a dizer, que apenas as pessoas especias o conseguem fazer, porque conseguem ir mais alem da nossa capacidade, da nossa força...

    todos nós lamentamos a perde de alguem que nos é TANTO, mas a força que elas nos deram ao decorrer da vida (embora nao aparente, por dentro estao mais destroçadas que nós)fazem-nos superar tudo e querer sempre ir mais alem porque tambem somos capazes...

    um beijinho

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  3. Tu foste sempre em ela, e ela será sempre em ti...

    Abraço

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  4. Porque neste texto tudo me tocou.Muito profundamente.O nome. A doença.
    Porque se luta, porque se quer vencer, porque dói, porque se desespera. Porque afinal só se quer vencer a morte, só se quer viver a vida, até que a pele fique enrugada e a cabeça pintada de neve.

    Perguntamos porque tem que ser assim. Porque nos toca a nós. Julgamos que estamos sós. Perdemos a noção . E depois?

    Luta-se, chora-se, cai-se, volta-se a lutar e pergunta-se tanta vez: Valerá a pena?
    Valerá sempre a pena, porque nem todas as mulheres têm o mesmo momento da MArgarida, o de morrer assim, na luta com um convidaddo indesejado que nunca mais saiu lá de casa.
    Poderão haver outras mulheres que conseguirão deixar de dormir com ele, mas que ele lhes leva parte do corpo. Não lhes leva o coração nem a alma. Mas paar isso não se pode desistir...

    Lamento a tua perda. Sei que dói! Mas fizeste da Margarida uma flor, para lembrar a todas as mulheres que um dia, podemos ser qualquer uma de nós, a quem ele nos bate à porta. Convém prevenir... Porque o seguro morreu de velho e a prudência foi ao enterro!

    Beijoca!

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  5. Conseguiste que sentisse um aperto no peito e apesar de fazer força, uma lágrima escorreu-me pela face...

    Margarida para sempre!

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  6. Gemini, que dizer? Como tu próprio dizes, como posso comentar um sentimento assim? Uma dor assim? Um pedaço de nós que vai com quem nos é querido que parte?
    "Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu", certo? É impossível não chorar. A dor dói. A dor solta as lágrimas. Mas... que bom foi teres conhecido a Margarida! Que bom terem partilhado momentos, confidências, tristezas, alegrias. Que bom terem feito parte do mesmo mundo. Este mundo para ela acabou mais cedo. Injustamente, pensas tu, e pensamos nós que, mesmo sem conhecer a Margarida, a ficamos a "conhecer" pelas tuas belas palavras e todo o sentimento que elas carregam. Porque estas coisas acontecem a quem não merece, quando há tanta gente má por aí? Perguntamos tantas vezes. Acredito que cada um de nós tem uma missão neste mundo. Que às vezes a cumprimos mesmo sem darmos conta. Que tudo isto faz parte da nossa evolução como seres.
    E ela vai, vai estar sempre contigo, acredita. Faz parte da tua vida. E com certeza foste parte importante da vida dela. Contribuiste para a vida dela ser melhor!
    Continua a ser flor, a tua Margarida!

    Beijinho

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  7. Não me posso exceder. A posição mais fácil de quem volta e encontra de cada vez novas palavras de profundo sentir que acabam por ser ímpares. Há muitos dias que não me recordavam que lido mal com a humidade. Há muitos dias que não me entrava um cisco para a vista.

    Tenho a certeza de que a Margarida se orgulha do amigo que és. Porque nada se perde nem nada se cria, ela terá que existir para sempre. Está perdida para a nossa forma de ver. Mas o teu texto recorda-nos que ela, afinal, nunca se há-de perder.

    "O" abraço Gemimi!

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  8. Nos pedaços de alma arrancada, que deixas no teu texto, leio não só a dor de quem ama, mas também que a Margarida é imortal! E é imortal, porque um dia terá acreditado que é possível, de cima, contemplar a sua obra! Essa obra é tão bela, que deixou o mundo diferente à sua passagem.

    Silencio-me…

    Mário Rodrigues

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A "ler" é que a gente se entende.