Todo o passado importa pelo presente que já foi. Todo o futuro se releva pelo presente que será. E o que fazemos nós do nosso agora, que no passado já foi futuro idealizado, e no futuro será passado, que não queremos doloroso?
Uma ligação telefónica foi estabelecida. O dever profissional encarregou-se dela. Do outro lado não atendeu o XPTO que se pretendia, atendeu um qualquer senhor José, que eu talvez não queira ser no futuro, e que estou em crer, aguardava que o erro (que também torna os profissionais humanos) conduzisse até si, não uma qualquer, mas aquela ligação telefónica.
A história é curta. A nossa conversa ao telefone não durou três minutos. Mas a imagem é infinita. Obriguei-me a isolar-me no final do telefonema. Precisei de ficar só por um bocado, para ser por breves momentos, aquele senhor José, que definitivamente não quero ser no futuro! Aquele senhor José que tantos outros senhores e senhoras são…
O senhor José nunca ouvira falar no XPTO que eu pretendia. O senhor José esqueceu-me ao pousar o auscultador. Eu jamais esquecerei os dias que vive o senhor José há cinco anos. Foi há cinco anos que ficou viúvo. Ao que parece, no dia em que enviuvou, os seus filhos terão ficado também órfãos de pai.
Eu tentei confortá-lo. Usando palavras que lhe pusessem algum sentido nos dias. Tenho de acreditar, neste momento, a cada "este momento" que me lembrar deste telefonema, que lhe levei algum Sol.
As palavras que usei, não importam. Qualquer um lhes faria o uso. Desejo profunda, sinceramente, é que nunca cheguemos a usar, as palavras que ele usou… É com essas que vos deixo.
(Quero apenas alertar-vos que o telefonema aconteceu por volta das 20h).
(Palavras do senhor José):
- Quem?! XPTO?! Nunca ouvi falar! Não meu senhor, aqui estou só eu. Venho cá a casa só para dormir. Os meus filhos puseram-me num lar, num “Centro de Dia”. Já há tempos que não ouço deles. Ando para aqui sozinho. Passo por lá o dia e venho a casa dormir. Fiquei viúvo há cinco anos e há cinco anos que assim é…
Uma ligação telefónica foi estabelecida. O dever profissional encarregou-se dela. Do outro lado não atendeu o XPTO que se pretendia, atendeu um qualquer senhor José, que eu talvez não queira ser no futuro, e que estou em crer, aguardava que o erro (que também torna os profissionais humanos) conduzisse até si, não uma qualquer, mas aquela ligação telefónica.
A história é curta. A nossa conversa ao telefone não durou três minutos. Mas a imagem é infinita. Obriguei-me a isolar-me no final do telefonema. Precisei de ficar só por um bocado, para ser por breves momentos, aquele senhor José, que definitivamente não quero ser no futuro! Aquele senhor José que tantos outros senhores e senhoras são…
O senhor José nunca ouvira falar no XPTO que eu pretendia. O senhor José esqueceu-me ao pousar o auscultador. Eu jamais esquecerei os dias que vive o senhor José há cinco anos. Foi há cinco anos que ficou viúvo. Ao que parece, no dia em que enviuvou, os seus filhos terão ficado também órfãos de pai.
Eu tentei confortá-lo. Usando palavras que lhe pusessem algum sentido nos dias. Tenho de acreditar, neste momento, a cada "este momento" que me lembrar deste telefonema, que lhe levei algum Sol.
As palavras que usei, não importam. Qualquer um lhes faria o uso. Desejo profunda, sinceramente, é que nunca cheguemos a usar, as palavras que ele usou… É com essas que vos deixo.
(Quero apenas alertar-vos que o telefonema aconteceu por volta das 20h).
(Palavras do senhor José):
- Quem?! XPTO?! Nunca ouvi falar! Não meu senhor, aqui estou só eu. Venho cá a casa só para dormir. Os meus filhos puseram-me num lar, num “Centro de Dia”. Já há tempos que não ouço deles. Ando para aqui sozinho. Passo por lá o dia e venho a casa dormir. Fiquei viúvo há cinco anos e há cinco anos que assim é…
Infelizmente histórias como estas são cada vez mais banais :(
ResponderEliminarA solidão... a falta de respeito por quem nos criou... a insensibilidade... o egoísmo... seja qual for a razão ela não deveria existir...
E por vezes é um estranho que nos traz o Sol só mesmo por uns momentos.
"...definitivamente não quero ser no futuro!"
Caríssimo Gemini,
ResponderEliminarHá já muitos anos que uma das minhas lutas, e causa de alguma crucificações, á transformação dos lares e afins, em coisas que nada mais são que antecâmaras da morte... A nossa sociedade ainda tem muito para fazer, em redor destas realidades...
Possivelmente escreverei sobre isto um dia destes...
Um abraço.
E hoje, no café da esquina, a polícia e a assistência social estão a tentar resolver uma situação em que um filho tem vindo, de táxi, diáriamente, colocar a mãe ali de manhã, e recolhê-la à noite. A octagenária, quase imobilizada, ficava para ali todo o santo dia sem se saber ao certo como satisfaria as urgências.
ResponderEliminarQuestionado pelo dono do estabelecimento, o filho da senhora ainda o enchia de impropérios.
Enfim... Haverá palavras?...
Se há, não as tenho.
Um abraço!
Errata: octagenária... Leia-se octogenária...
ResponderEliminar(É assim quando se fica com poucas palavras. De vez em quando temos que inventar algumas...)
Infelizmente há muita gente que vive apenas o agora. Que se esquece do ontem. Que se esquece que o seu agora se deve ao facto de alguém o ter proporcionado. Claro que não se pode nunca generalizar, há sempre excepções, mas acho que a grande, grande maioria dos pais tenta proporcionar as condições necessárias aos seus filhos para que o futuro destes seja bom. Na maioria dos casos tentam dar-lhes o que não tiveram. Enquanto são dependentes acolhem-nos, mimam-nos, alimentam-nos, até que eles crescem e um dia os papéis invertem-se. Aí, muitos filhos esquecem-se de tudo isso. São situações muito, muito tristes.
ResponderEliminarMais do que o envelhecer, mais do que a sensação de já não ser capaz de fazer certas coisas, acho que o que deve doer mais é a solidão, é a sensação de inutilidade, o que ando aqui a fazer? A passar os dias, até que eles acabem? Triste.
Nenhum de nós quer ser o sr. José no futuro. De certeza que lhe levaste um pouco de sol. Basta teres usado (e não digo perdido) o teu tempo para falar com ele, para o ouvir. Acredita que muita gente não se teria dado a esse trabalho.
Beijinho, Gemini
Definitivamente, Mimanora!
ResponderEliminar"Este País Não É Para Velhos"!
Os "Gato Fedorento" já fizeram um sketch, irónico, sobre o tratamento que muita gente dá aos "seus" idosos...
Mário,
ResponderEliminarvai ser necessário morrer e nascer ainda muia gente para alguns comportamentos mudem!
Infelizmente!
Um abraço!
Errata, CybeRider, é o que esse "filho" precisa ao cérebro!
ResponderEliminarNão, não há palavras que possamos usar, capazes de definir esta revolta...
Um abraço!
Mário,
ResponderEliminaraté "como" as letras e as palavras..
Faltou-me um "t"!
Faltou-me um "que"!
Nirvana,
ResponderEliminarO nosso amigo "E...", deixou no seu espaço, há tempos, um video que ilustra muito bem este assunto. Alguns podem não ter tido acesso a ele, por isso vou deixar aqui o "link". Vejam e pasmem!
Um beijinho!
http://www.youtube.com/watch?v=uYVqNuTTmyg&feature=related
talvez nao tenho muito a ver, mas...
ResponderEliminarquando vejo uma criança (ou ate mesmo alguem na adolescencia) mal educado, a falar com a mae como se estivesse a falar com um amigo ou com uma irma, às vezes tratando mal (por vezes os alguns pais deixam chegar a esse patamar)costumo dizer:
- se ela/ele fosse meu filho, levava um estalo que ate andava de roda (como quem diz claro)...
mas tambem costumo sempre dizer:
- eu nao estou livre de ter um filho pior que A ou B, um dia até me pode dar um chuto...
é muitas vezes por essas (o exemplo da historia do jose) e por muitas outras que cada vez tenho mais medo de chegar a uma determinada idade (só aquela idade em que me vejo ja incapaz de me governar sozinha).
um dia tomarao posse da minha vida, um dia tomarao as minhas decisoes, e eu como nao poderei defender-me, quando nao tenho muitas opçoes de escolha terei que engolir...
eu sei que sou nova, muito nova para pensar ja nisso, mas hoje sou alguem, amanha posso ja nao ser nada!!!
e por isso... nao rezo, mas desejo muito que nao chegue a essa tal etapa da minha vida, que tanto receio...
beijinho
Conjugados os factores já referidos no post e na caixa com a previsível falência da Segurança Social precisamente na altura da reforma de uma geração sem hábitos de poupança e somando-lhe o progressivo afastamento dos filhos que o ritmo maluco e a educação manca provocam, prevejo um futuro recheado de anciãos indigentes para as ruas deste país...
ResponderEliminarOlha Soraia,
ResponderEliminarnão me vou alongar muito ao que disseste, mas como diz e muito bem o Shark, adivinha-se a falência da Segurança Social, que diga-se, de segurança... por enquanto só para os que lá trabalham mesmo, digo eu, por isso, não acho que seja tarde para pensares nisso! Não é tarde para ti nem para ninguém!
Um beijinho.
Pois é Shark...
ResponderEliminarO que é que andam a fazer a este país?... Foi para isto o "Abril"?...
"Shame on them"!
Um abraço.