quinta-feira, março 04, 2010

Schhhh... Cala um pouco mais baixo!

Este texto já tinha sido publicado aqui. Esta nova publicação enquadra-se no desafio "Silêncio", da Fábrica de Letras.


Já muito se registou sobre silêncio. Também já o fiz. Sou testemunha das maravilhas que encerra, porque o escolho muitas vezes para companhia.

Mas há outros. Há outros silêncios… Há silêncios que são verdadeiras torturas. Aqueles que não são escolha. Que nos são oferecidos sem que lhe saibamos o porquê. Que nos magoam mais, incomensuravelmente mais do que aqueles que, descarada e insensivelmente, nos confrontam com as respostas que nunca queríamos que chegassem. Mas estes, pelo menos, trazem respostas. E se a dor que algumas dessas respostas trazem é inevitável, já o sofrimento se transforma em algo opcional.

Não considero o silêncio, nenhum género de silêncio, a arma dos fracos. Acomodamo-nos a tantas situações por ser tão mais fácil permanecer, no que se conhece, em função de rumar a um desconhecido, que à partida já tem rótulo de dor. Acredito que muitas vozes se calam, em sofrimento, para que as suas palavras não magoem. Assim sofre só um, o que cala. Errado. Sofrem as mesmas pessoas envolvidas. Muda apenas o modo. E este silêncio, o não escolhido, muitas vezes não nos permite ouvir o que o outro, o escolhido, tem para nos dizer. Pode assistir-nos toda a razão para optar pelo silêncio – inquestionável. Porém, deveríamos remeter-nos a ele somente após apresentarmos os nossos motivos. Ainda que não os queiramos discutir. Apresentá-los, simplesmente.

Já o disse aqui, e não só, que sou um respeitador nato. Como tal, serei capaz de respeitar todo o silêncio que me queiram dirigir. Mesmo que injusto. Já lá vai o tempo em que me preocupava em me justificar e tentar apresentar os meus motivos, sem que mos quisessem ouvir, quando me deparava com alguma atitude injusta para comigo. Agora não. Quem gostar de mim, o mínimo que seja, há-de confrontar-me antes de me julgar e de me condenar seja ao que for. Nem que seja ao jejum das suas palavras.



É incomparavelmente mais doloroso um silêncio não justificado, do que mil palavras ofensivas e injustas!



Se este silêncio se deve ao facto de eu te ter magoado, ainda que sem consciência disso, apresento aqui as minhas desculpas, onde me podes ler por opção. Onde não tenho de invadir o teu mundo.

Antes de virar esta página, quero que recordes que se a vingança nos torna iguais, o perdão faz de nós superiores.

Se é que tenho algum poder no campo do perdão, que se dane a superioridade... O teu silêncio está perdoado.

26 comentários:

  1. É tão bom ter essa capacidade de perdoar... eu tenho-a. Às vezes acho que sou parva. Noutras vezes acho só que sou boa pessoa. :)

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  2. Olá S*!

    É quase como encerrar em nós uma outra pessoa, que se encarrega de nos mostrar "luz"!
    Que dor nos pode invadir, se cumprimos os nossos "50%"...?

    Não, não serás parva. Serás antes... Inteligente!

    BeijocaS*

    ;))

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  3. Este tipo de silêncio costuma escalar em remorsos, amargueza e até ódio.

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  4. Tens razão. O silêncio não justificadopode ser violentamente ensurdecedor! Não sei se este post encerra em si, alguma mensagem privada... mas se o silêncio for quebrado, continuará a ser perdoado? :)

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  5. Eu não gosto de silêncios, ou melhor, raramente gosto. Mas nas zangas e mal-entendidos então é mesmo do pior, pois nada que uma boa conversa não resolva. Mas concordo contigo, quem não está disposto a ouvir-nos não nos merece.

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  6. Já comentei este "silêncio" em tempos. Propositadamente não fui ler tudo o que escrevi. Vou depois.

    A diferença entre o silêncio que procuramos e o que nos é imposto demonstra bem como as coisas dependem das circunstâncias que as rodeiam. A opção do silêncio como companhia, como nossa companhia, traz-nos, na maior parte das vezes, paz. O que nos é imposto, que nos obriga a guardar palavras, sentimentos e emoções, deixa-nos sempre um sentimento de insatisfação. Mesmo que seja para virar a página é muito mais fácil fazê-lo depois de tudo dito e esclarecido.
    Que as vozes se calem para não magoar. Magoa muito mais esse silêncio. Prefiro mil vezes que me digam o que pensam e sentem, mesmo que não seja o que queria ouvir, do que me remetam ao silêncio. Magoa mais. Mesmo que sejam palavras injustas. Dessas, poderei defender-me. Do silêncio não. Já para não falar dos mal-entendidos que os silêncios podem gerar.
    Quem gostar de mim, o mínimo que seja, quem me conhecer, não me calará com o seu silêncio. Também não me julgará. Mas isso já é outra história.

    Beijinhos, Gemini

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  7. Gostei do texto* e gostei da frase em que dizes ..

    ..."Antes de virar esta página, quero que recordes que se a vingança nos torna iguais, o perdão faz de nós superiores..."

    A maior bofetada que podes dar a uma pessoa, não é acusá-la, mas sim perdoà-la*

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  8. Perdoar sim, esquecer... jamais. =)

    *

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  9. A duvida alimenta-se desse silêncio, e ela pode corroer a alma. Não há nada pior que viver na dúvida, na incerteza...mais vale as palavras por mais duras que sejam...Perdoar nunca será um acto de fraqueza,mesmo sabendo á partida que talvez não haja nada a perdoar.Isso desculpabiliza-nos de alguma forma, mesmo quando achamos que cumprimos com os nossos "50%".

    Beijinho

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  10. Gostei do teu texto. Perder por falar nunca por ficar calado. Falar na altura certa e apresentar as minhas ideias e razões. Acho duas boas opções a seguir. Acho sempre bom uma discussão saúdavel ao silêncio doloroso.

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  11. Hum... há situações e situações, o engraçado é que sou muito mais capaz de perdoar alguém que não me seja próximo, do que algém que me é... bichos estranhos somos nós...

    No que diz respeito ao silêncio, detesto, pura e simplesmente detesto, é uma das piores coisas que me podem fazer...

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  12. O entendimento só surge se houver diálogo. Aqui o silêncio não tem qualquer valor.

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  13. e a historia de Alice, lá continua....
    no
    ... continuando assim...

    mais logo, um novo capítulo

    um obrigada a quem segue (porque só vale a pena assim).

    Um especial convite, para quem ainda não mergulhou naquela história.
    ...é só uma história, apenas isso.

    obrigada
    e até logo
    Bj
    teresa

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  14. adorei, gemini, a sério (;
    está um texto muito bonito e que a mim me traz muitas recordações.
    desculpe ter andado desaparecida...

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  15. Olá Johnny,

    Sei que não será fácil evitar esse desfecho. É até a via mais simples, para a qual somos impulsionados. Mas a nossa paz depende, antes de qualquer outra coisa, de nós! Nada conseguiremos resolver sem ela...

    Um abraço e obrigado por teres vindo. Volta sempre.

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  16. Olá Eva,

    E nessa situação será silêncio que haverá para perdoar?...

    Um beijinho.

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  17. Olá Brandie,

    Tudo dito! Silêncio imposto é indiferença, (quase) desprezo. Perdoá-lo ajuda a pessoa que o promove a reflectir, no minimo...

    Beijinho.

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  18. Olá Nirvana,

    Identificas-te com o texto e eu identifico-me plenamente com o teu comentário!

    Um beijinho.

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  19. Olá Por entre o luar,

    Se com "bofetada" queres dizer "pequena lição", concordo totalmente contigo

    ;)

    Beijinho.

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  20. Olá Gingerbread Girl,

    É exactamente isso, muita atenção. Até porque lembrar é o primeiro passo para (não) repetir!

    Beijinho.

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  21. Olá Checa,

    Concordo com tudo o que dizes. Não perdoar será permanecer num estado que nos abstém de viver a nossa vida. Será insistir em viver do lado da vida de uma pessoa que se quer desprender de nós. Se nem o amor justifica isso, porque o amor é viver em comunhão, muito menos será o desentendimento, ou o silêncio, que o justificará.

    Beijoca.

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  22. Olá Olga,

    E o que não foi conversado (porque uma das partes assim quis), conversado está. Tenho "pena" das pessoas que se "fecham" sobre elas próprias, sem apresentar nem recolher argumentos, sem discutir pontos de vista. Tiram normalmente conclusões erradas, se ao menos parassem um bocadinho para pensar...

    Um beijinho.

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  23. Olá Alexandre,

    Talvez porque alguém que não te seja próximo, não consiga precisamente por esse motivo magoar-te tanto como alguém que te é!

    Mas é verdade... Somos realmente uns bichos muito estranhos...

    Abraço.

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  24. Olá Brown Eyes,

    Precisamente. Cada coisa no seu lugar.

    Beijinho.

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  25. Olá continuando assim...

    ... Assim o tempo mo permita!

    Um beijinho.

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  26. Olá summer,

    Alegra-me que tenhas gostado. Que te possa trazer recordações boas! Que te possa acrescentar algo positivo.

    ;))

    Um beijinho.

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A "ler" é que a gente se entende.