(À minha irmã)
Vou deixá-la descansar.
Antes disso, porém, preciso apenas de chorar umas letrinhas. Que serão sempre insuficientes para as palavras lhe fazerem jus mas… tenho de as chorar. E nem isso saberei fazer porque, de intimidadas, escorrem desorganizadas, as letrinhas, mas a Bela, a Anabela, perdoa-me; não fossem lágrimas.
Não me lerá estas palavras. Jamais acordará do sono que dorme. Encontro conforto em outras que me leu, que me ouviu, gémeas destas, gémeas afinal como nós éramos, não na idade, na alma. Foi assim desde que me lembro de mim e, até há bem pouco tempo, tinha mais recordações de mim, do que eu próprio; quanto vale uma mana mais velha?!
Só eu sei o quanto me amava; como pude eu ser amado assim?! Via em mim algo que eu não sentia ser, mas era, para a minha mana eu era e, por isso, passei a ser para mim também, afinal sempre soube mais do que eu. Mudou o meu mundo, aos poucos, quando fui percebendo a dimensão da importância da minha palavra. Do meu silêncio presencial; a alegria que a minha presença lhe trazia!... As forças que recarregava no meu abraço. A vaidade com o meu beijo. O orgulho pelos laços sanguíneos.
Fazia questão de me dizer que não amava ninguém como me amava. Eu sei que nunca ninguém me amou tanto.
Fez-me sentir Humano. Faz-me senti-la “A” mana.
Maninha:
Só vou perder-te na morte,
Já só falto eu morrer.
Quem me dera ter a sorte
De, na morte, te reaver.
Anabela
04/07/1967 – 27/05/2014