Quase vejo.
Não sou invisual mas… sou dos que vêm mal. Principalmente quando olho. Não sou daltónico, aparentemente, no entanto confundo algumas cores; esperança-sangue com paz-luto, por exemplo. Ao longe só tons, o preto e branco, e, ainda assim, confundo-os. Muito perto, tudo se desfoca. Afasto-me. Fecho os olhos, pareço escutar...
Quase ouço.
Não sou surdo mas… sou dos que escutam mal, principalmente quando ouço. Sou poliglota, ich kann es beweisen, no entanto não entendo o que dizem. Ao longe só sons, falam muitos ao mesmo tempo, e, ainda assim, escuto vozes em silêncio. Já mais perto, ouço nim e escuto são. Afasto-me e tapo os ouvidos, pareço… estar perto em demasia para sentir; retiro-me para que haja algum sentido. Degusto o cheiro da dor, na esperança que não me doa cheirar-lhe o sabor. Tarde demais.
Tudo o que faço é porque querem, e quase nada é querido; se sorrio, provoco. As minhas lágrimas são cínicas. Se escuto traio. E se opino, induzo. Se ajudo é a errar.
E tudo ali, diante de mim, tão perto de ser tão fácil. Haverá coisa mais fácil que tornar difícil o que está perto?
Sou um felizardo, apesar de tudo, por nem ao espelho poder estar no título.