domingo, dezembro 26, 2010

O Pai, Na tal noite

Se o tempo, o do relógio, nos rouba a infância, devolve-no-la também, passado mais algum tempo, quando nos traz as rugas.


Uma mesa que reúna para uma refeição os meus pais e os meus irmãos será sempre o meu Natal. Por isso (ainda) sou dos que tem a felicidade de o viver algumas vezes por ano.

Era um pai forte que eu via quando olhava para o meu, em menino. Um pai que a vida se encarregou de endurecer, para que a minha e a dos meus irmãos fosse o mais suave possível, enquanto indefesos. Hoje reparo, com orgulho, que apesar de manter a racionalidade, o meu pai destrancou no seu coração aquele compartimento onde foi depositando e mantendo guardado o sentimentalismo. Nos Natais de hoje já recorda, de lágrima assumida e sem receio que a voz o traia, os tempos em que teve de intervir junto, primeiro de um depois de outro, dos patrões dos irmãos, para que os seus futuros profissionais não se hipotecassem. Fez nessa altura de pai deles, um mais novo catorze anos, o outro dezasseis, sob o olhar atento do meu avô que, ao fazer o papel de seu pai, o deixou ser pai dos irmãos, ensinando-o e preparando-o assim para um dia saber ser (meu) pai.

Se pelos filhos teve de se fazer duro, hoje os filhos são pais. E ele é da idade dos netos.



Agora já pode ser menino outra vez. As rugas permitem.